
PRIMEIRO EPSÓDIO
Já passava da meia noite, as ruas estavam desertas e escuras. As casas todas já haviam apagado as luzes. Os postes com suas luzes amarelas, um aceso, outro apagado, pouca iluminação ofereciam. Estávamos já entrando em desespero. O pânico tomava conta de nossa mente.
- Você ouviu isso, Renata?
Disse-me com a voz sussurrada, minha amiga Sthefany.
- Sim, ouvi. Parecia alguma coisa voando. Respondi com a mesma tonalidade na voz.
- Meus deus, disse ela apavorada, o que vamos fazer?
Ficamos as duas, por um instante, abraçadas uma à outra com os olhos fechados sem saber o que fazer. Quando ouvimos novamente as asas batendo. Abaixamos-nos atrás de uma lata de lixo. Um rato que roia alguma coisa no chão correu batendo em garrafas que estavam espalhadas pelo chão. Não pudemos ver o que era, apenas sentimos um vento soprado em nossos rostos e um forte mau cheiro, que não sabíamos dizer o que era, quase nos sufocou.
- Ai, amiga, estou morrendo de medo! Eu disse quase quebrando as costelas de Sthefany de tanto apertar.
Ela passou as mãos em meus cabelos tentando me acalmar.
- Vamos procurar um lugar onde podemos nos esconder. Deve ser a criatura. Já nos localizou, com certeza está querendo nos pegar.
Corremos batendo nas portas das casas para ver se alguém abria. Os cães ladrando alto aumentavam o nosso desespero. Ouvimos o barulho novamente se aproximando, ficamos exprimidas contra uma porta velha de madeira. Sthefany já não disfarçava mais seu medo, começou a chorar. Sabíamos que se a criatura nos encontrasse ali, estaríamos perdidas. Eu bati forte na porta. Gritei pedindo socorro, até que se abriu.
Fomos jogadas para o lado, no chão. A porta foi fechada com uma travanca forte de madeira. Aos poucos fomos percebendo a figura de um homem de barbas longas, trajando calças Jens, calçado em botas pretas com uma blusa branca encardida. Tinha sobre os ombros uma espingarda de cano duplo.
- Mas o que diabos vocês estavam fazendo na rua a essas horas?
A criatura batia fortemente contra a porta e grasnava alto.
- Vocês não sabem do perigo? Agora atraíram essa bruxa até aqui! Quem são vocês, afinal?
Aquele homem parecia tão assustador quanto a fera que batia cada vez mais forte. Ele deu dois disparos contra a porta fazendo a criatura fugir.
Depois de recuperar o fôlego. O homem nos ofereceu um copo de água.
Sthefany explicou-lhe que estávamos em um grupo de amigos viajando de férias pelo Brasil. Nossa intenção era ir de Norte a Sul, depois de Leste a Oeste, cruzando nosso país de uma ponta a outra. Porém, quando chegamos à noite naquela cidadezinha do interior do Pará, tivemos uma surpresa logo na entrada. Uma estranha criatura atacou nosso veículo. Estávamos em um grupo de seis amigos. Apenas nós duas havia escapado. Saímos correndo em desespero. Achávamos que a criatura havia indo embora, mas fomos perseguidas pelo caminho e ali estávamos.
- Então vocês não sabiam da bruxa?
Olhamo-nos por alguns segundos.
- Bruxa? Não. Não sabíamos de nada disso, dissemos quase que juntas.
- Pois essa cidade que vocês entraram é amaldiçoada. Vocês não deviam ter vindo aqui. As pessoas que vêem aqui, nunca, jamais conseguem voltar.
Eu tive que me segurar para não fazer xixi de tanto medo.
- Moço, disse Sthefany com a voz de choro, pelo amor de Deus, não faça esse tipo de brincadeira. Temos que voltar para casa. Nossos amigos foram mortos.
O homem deu uma gargalhada.
- E vocês acham que escaparam?! Riu estrondosamente.
- Sim. Estamos aqui, eu disse sem muita convicção.
O homem balançou a cabeça. Foi até um armário pegou uns biscoitos velhos, sentou-se à mesa e mandou que nos sentássemos.
- Nada disso que vocês estão vendo é real. Tudo isso é só projeção do medo de vocês. Aposto como vocês foram atacadas quando passavam por uma ponte.
- Sim! Falamos juntas, como o senhor sabe?
- É obvio. Sempre é assim. Foram eles quem escaparam, não vocês.
Senti um calafrio tomando conta de mim.
- Foram eles quem escaparam? Como?
O homem parecia gentil agora. Serviu duas xícaras de café e nos ofereceu.
- Tomem um pouco, é bom.
- Como é que alguém consegue tomar café numa hora dessas, moço?
Ele balançou a cabeça. Fez um risinho no canto da boca e disse:
- Vocês não entenderam nada ainda, não é? Mas vão entender. Vão entender. Vou explicar tudo a vocês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário