domingo, 22 de outubro de 2023

VISITAS INDESEJADAS



 AUTORA:

Karoline dos Santos

Era uma tarde de   outono, as folhagens secas e alaranjadas caiam das árvores, de modo que, quando vinha uma cavalgada, sentia-se os cascos do cavalo quebrando em pedacinhos cada uma das folhas que ousaria ficar em seu caminho. O vento gelado do outono arrepiava os pelos dos braço, mais a sensação era boa, pois com o passar de uma onda de calor, a brisa gelada era como o gosto doce do mel. Estava entardecendo quando vi chegando, perto de minha residência, dois jovens: um garoto alto e uma garota. Eles passaram pelas árvores pálidas, era óbvio que sim. O inverno se aproximava com vontade. Eles se aproximaram, o rosto da garota era esbranquiçado com os cabelos alaranjados como a aurora da manhã, o garoto era mais corado, como se estivesse tomado um bom bronzeado com seu cabelo cacheado bem armado como folhas de arvores secas. Estavam tremendo e com o rosto assustado, pelo menos o garoto. Quando percebi, estavam na porta de minha casa, o que era estranho, pois recebia poucas visitas. O menino desceu do cavalo e ajudou a garota descer. Com rapidez, chegaram até mim.

_ Por favor, podemos passar à noite? Estamos em viagem, então só ficaremos hoje! -Disse o garoto.

Eu percebi que estavam pálidos e trêmulos, por isso os deixei que ficassem.

_ Está bem! Podem ficar, mas podem ficar essa noite como foi dito! _Eu disse.

_ Muito obrigado! _Responderam .

Então entramos. Coloquei mais lenha na fogueira. Ao passo que o fogo iluminou toda casa, eles se sentaram perto da lareira. A menina olhou pra mim com um leve   sorriso, então sorri de volta; pois seu rosto era agradável. Quando de repente, meu sorriso sumiu, pois percebi que em seu vestido esbranquiçado quase amarelado, havia manchas vermelhas secas.

_ Meu irmao é um idiota! Antes de sairmos de casa, ele derramou geleia de frutas vermelhas em mim. Tentei limpar, mas a mancha não saiu! -Disse a garota.

Parecia mesmo geleia, porém havia algo mais que isso, tive uma leve impressão. "Que estranho!" _ Disse eu em meus pensamentos. 

Quando finalmente a noite chegou, preparei o jantar para meus visitantes. Fiz uma bela tigela de sopa de cenoura quente porque estava começando a ficar frio. Eles comeram com tanto desespero que se melaram do caldo alaranjado da cenoura. Depois do jantar, levei-os para seus quartos. A casa possuia quatro quartos ao todo, o garoto foi para primeiro quarto do corredor, onde já se havia preparado roupas e cobertores. A menina lembrava muito uma criança que tive em minha vida.

_ Você me lembra muito de minha abelhinha, eu disse.

_ Que abelhinha? Perguntou a garota .

_ Minha filha, Hanna! Eu disse.

_ Hanna é um belo nome! Disse a menina.

_ É mesmo, eu digo levantando-me da ponta da cama.

_ Aurora!

_ An? Digo eu.

_ Meu nome é Aurora!

-É um belo nome! Cobrir a menina na cama com um cobertor grosso e macio para aquecê-la do frio, de forma que só ficou a sua cabeça para fora. Apaguei a luz e sai. 

Pelo corredor que dá para a janela, ouço o cachorro do vizinho uivando. A casa já é velha e a noite um pouco escura, então, quando ando, escuto meus passos na madeira espessa e a escuridão se cerca ao meu redor. Mas, a luz esbraquiçada da lua refletia no vidro rachado da janela, aos meus pés. Olho para a parede do corredor e vejo o quadro empuerado de meu querido marido e minha amada filhinha. Ele com seu trage de militar esverdiado em postura reta, sentado em uma poutrona aveludada, com Hanna no colo de sua perna direita. Ela com seu vestido de primavera vemelho de babados brancos, e uma flor de margarida em seu cabelo negro cacheado, com um sorrizinho de criança forçado. Eu ao lado, com a mão no ombro direito de meu marido, usando um vestido rodado cinzento e com sorriso de canto fechato. Olho e me lembro do tempo no qual passamos juntos. Meus olhos se entristecem, pois as lembranças doces me trazem arrependimentos por não ter passado mais tempo com eles. "Que Saudade!". Falo com um sussurro, tocando no quadro com meus dedos e sentindo eles sujos e gelados porque, agora, o quadro estava frio e empoeirado. De repente, em meio ao silêncio do corredor, ouço passos se aproximando de mim. O barulho ficava cada vez maior. Pela sombra que se projeta, percebo que é de uma mulher. Ela se aproxima e diz em um tom baixo:

_ Saudades deles? Era a empregada.

_ Sim, eles fazem muita falta! Digo.

_ A senhora ficou elegante nesse quadro!

-  Obrigada! Ele me lembra dos velhos tempos.

_ A senhora fala como se já tivesse idade, mas ainda é bem jovem! Eu estava limpando seu quarto e vi seus relatórios, a senhora não era detetive ou algo assim? 

-Sim! Já fui, mas a minha jornada já acabou e não gosto de me lembrar de que foi por causa desse  trabalho que perdi um tempo precioso que deveria ter passado com minha família. Por causa desse emprego perdi meu marido, e também foi por causa dele que não pude dizer adeus a minha filha! Além domais, o fato é que nunca solucionei o caso. Então, sim, foi tempo perdido e não vou cometer o mesmo erro outra vez. Disse eu.

_ Senhora, não foi por sua culpa que seu marido morreu, ele foi um herói e ele a amava, e, provavelmente, não iria querer que sua esposa desistisse tão facilmente. Não foi também culpa sua que sua filha pegasse tuberculose, ela já estava doente e não havia mais jeito, nem cura . Eles queriam -la feliz e não que a senhora abandonasse o seu trabalho, assim. Disse ela.

-Eu não sei, isso leva tempo! Disse.

-Senhora já faz dois anos! Quanto tempo mais vai levar? Disse a empregada e completou _ Já está ficando tarde, tenho que ir agora.

_ Às sete horas como sempre? Eu perguntei.

_ Como sempre! Ela respondeu. 

Eu a acompanhei até a porta.

-Boa noite! Disse ela.

-Boa noite! eu disse fechando a porta devagar, quando senti algo atrás de mim, virei-me lentamente e era nada mais, nada menos do que o cachorro uivante. Respirei fundo e o coloque para fora. Pensei, "estranho, a porta da cozinha está sempre fechada, mais estava aberta, acho que a empregada esqueceu de fechar quando pôs o lixo para fora". Segurei o cachorro, mas não foi preciso, ele saiu com facilidade, lambendo-me com sua língua molhada. "Eu queria ter um cachorro!", disse em meus pensamentos. Depois que ele saiu, fechei a porta. Quando me virei, Aurora estava parada na minha frente, estava com uma mecha de cabelo no rosto, sorrindo.

_Eu não gosto de cachorros! Disse ela.

Seu rosto estava esquisito como se algo a perturbase.

_O que houve, Aurora? indaguei oferecendo-lhe um copo de leite morno e bolachas.

_ Meu irmão me assusta! Ele fica estranho, às vezes. Nossos   pais brigavam feio com ele, mas eles sairam das nossas vidas quando fomos embora. Eu vou cuidar dele! Disse ela com um bigode formado pela espuma do leite e sorrindo novamente.

_ Você é bem jovem para cuidar de seu irmão mais velho! Eu disse me servindo uma xícara de chá.

_ Ele sabe que eu cuido melhor dele. Ela deu um bocejo.

_ Você quer tentar dormir agora? Eu posso te contar uma histó….

_ Aquele quadro na parede do corredor, a criança no quadro era Hanna? Disse me interrompendo.

-Sim, era ela! Respondi. 

-Ela morreu de quê?

_ Tuberculose! Eu disse.

_Sinto muito! E o homem, é seu marido? Ele morreu de quê?

_ Ele morreu na guerra, uma bomba explodiu…

 _Nossa! Como foi quando entregaram os pedaços deles Disse ela com tom de naturalidade.

 

_ Não tinha pedaços! _ Falei perplexa _ Acho que está na hora de dormir! 

 _ Tudo bem! Ela disse.


Levei a garota ao seu quarto cobri-a com o cobertor grosso e macio, apaguei a luz e quando ia fechar a porta olho para a menina e ela está dormindo delicada como uma flor, fecho a porta e saio ,entro em meu quarto e vou em direção ao criado
mudo ao lado de minha cama, na gaveta de baixo,havia vários papéis de relatórios, com casos solucionados e jornais com manchetes que diziam:

Detetive dirksen desmascara assassino do prefeito

Detetive dirksen soluciona caso das joias roubadas de mademoiselle jacobsen 

Detetive dirksen soluciona caso de ritual homicida

Detetive dirksen perder marido em tragédia em campo minado

Morre de pneumonia a filha de Detetive Dirksen

Detetive dirksen da pausa na profissão por problemas pessoais …


Olho e me lembro de muitas coisas. Revejo papéis, fotos, artigos e manchetes e entre todos esse anunciados, um papel amassado chama a minha atenção.  Desamasso-o com cuidado e vejo que era um jornal que dizia:

 

Detetive dirksen não soluciona caso de Família assassinada na Escócia




Aquele fora o caso que me intrigou por meses, perdi tempo demais. Uma família muito unida, formada por pai, mãe e quatro filhos, dos quais três são encontrados mortos. Os pais foram violentados com tanta brutalidade que seus rostos ficaram deformados com e o crânio entre aberto. O pescoço levou tantos golpes de corte que era capaz de a cabeça se soltar com um só toque. Mortos com uma peça de metal encontrada na cena do crime. A mulher, além das múltiplas lesões no rosto, no pescoço e no peito, havia da boca a garganta um pano comprido encharcado de sangue, que parecia ter sido enfiado na garganta para de alguma forma silenciar a vítima. A terceira vítima era uma criança de colo morta no berço, com golpes de faca na cabeça. A faca parecia ter sido torcida de tal forma que, quando foi removida, parte da massa cinzenta ficou esposta. Não teve choro, pois a criança estava dormindo. O assassino não foi encontrado e o caso foi arquivado. 

_Que tragédia, eu disse. 

De Repente ouço um barulho não no quarto de Aurora, porém do seu irmão. Ele estava no primeiro quarto do corredor. Bati na porta, mas quando entrei, me assustei ao ver aquele jovem rapaz, escorado na parede, apavorado.

_NAO! NÃO! NÃO! Ele gritava.

Tentei acalmá-lo, não adiantou.

 

-Eu não fiz por querer! Sinto muito, sinto muito! Ela vai ficar bem! Disse ele chorando.

 

-Quem vai ficar bem? Perguntei, mas por um instante fiquei amedrontada ao ver que a expressão de choro e agonia de seu rosto, mudara para uma sorriso e uma gargalhada sinistra. E, como um comando que não acontecera, ele parou. 


Sentei-me na cama, então ouvi outro barulho, maior, como se vidros estivessem sido quebrados. Eram gritos,gritos altos, corri para a porta, todavia estava trancada. Como? se não fechei! Tentei abrir, no entanto não conseguia, estava presa com o garoto. Ao passo que tentava abrir a porta, os gritos ficavam mais altos. Até que de repente, cessaram. Então chutei a porta com toda minha força, e consegui abrir. Olhei para o corredor e a janela estava quebrada. O que era uma rachadura, agora só havia vidros quebrados. Olho para frente e fico aterrorizada (horroroso de relatar), Aurora assustada tanto quanto eu. Chegando aos meus pés uma poça do sangue de minha empregada. 


_ Chegou antes das sete. _ Digo. 


A cena era indigesta, no chão, cortada com cortes profundos dos braço, as pernas com cacos de vidro da janela, seu pescoço se via cortado, mas o que me apavorou foi que, apesar dos múltiplos cortes, ela estava sem cabeça. Essa parte do seu corpo havia sido arrancada com força, marteladas. Olho para a parede e vejo o quadro de Hanna e seu pai com espirros de sangue. Fico aterrorizada e entristecida, estava na hora de solucionar um assassinato, não de uma pessoa qualquer, mas de uma amiga e membro de minha família.


Corri até Aurora para ver se estava ferida, ela estava bem. Pedi para entrar   no quarto do irmão e trancar a porta para não correr riscos, ela obedeceu. 


Eu precisava de pistas para uma solução desse assassinato o mais rápido possível. Liguei para a polícia, falaram que chegariam em breve. Nesse tempo estaria em perigo. Minha respiração ficou ofegante, meus batimentos acelerados, como se tudo tivesse voltado. Eu tinha que ser forte e astuta. Assim, primeiro cobri o corpo da vítima com um lençol, mas percebi algo de estranho no corpo. As marcas dos ferimentos eram bem expostas, todavia não profundas. Algo de estranho e interessante. Desci as escadas e vi que estava molhada, como se alguém estivesse subindo para pegar algo. Olhei a mesa da cozinha, vi as coisas da empregada. A porta estava aberta não arrombada - ela voltou por algo esquecido. Ela … ela esqueceu alguma coisa e voltou para pegar, abriu a porta, deixou suas coisas, mas estava molhada, subiu as escadas e… As poças de água levavam para o quarto de Aurora. Abri a porta, não havia mais manchas, só uma gaveta aberta e a mochila de viagem de Aurora. A gaveta continha meias e um par de luvas amarelas de lã da empregada. "Ela voltou para pegar as luvas, ela viu algo que não devia". A mochila, abri e vi uma peça de roupa, um cachecol, um par de luvas brancas.


Encontrei ainda pedaços de jornais, mas eram partes específicas que diziam:


Tragedia em novembro. 


Familia assassinada na Escócia assaino ainda nao foi indentificado


 Familia morta brutalmente Filho é o principal Suspeito (Detetive Dinksen é contrata para desvendar assacinato mais ainda nao obteve sucesso )


Quando vi isso, meus olhos se abriram e as pupilas dilataram como se o caso com que tive dificuldades estivesse dentro de minha propia casa. Além disso, o assassino tendo a própia irmã como refem. 


Corri o mais rápido que pude, tentei abrir a porta, no entanto estava trancada.


Chutei ela outra vez com tanta força que senti meu pé machucado. Vi que estava sangrando, mas consegui. Foi quando me deparei com um corpo, sim um corpo! Mais um corpo de menino. Estava molhado com um pano coberto de sangue na cabeça e a mão grudada na tomada, nao tinha reação. "Por que ela?" Eu queria saber. Nesse momento, ouvi o som do chicote no cavalo e, quando corri pelas escadas e sai de dentro da casa para fora, vi a menina fujindo com o cavalo.


Ao passo que ela sumia entre as árvores palidas, com frio e machucada, minha respiração ficava ofegante depois de correr. Sinto um floco de neve cair sobre meu pé machucado, "ola neve!". Olho e escuto a polícia chegando e cercando minha casa. O cachorro uivante estava latindo escorado ao meu pé. Foi quando percebi que estava na hora de voltar e cumprir meu papel, por Jon(meu marido), por Hanna (minha filha ), por Amanda ( a impregada) e pelo jovem.


Quando vi sem perceber, estava no bolco do casaco um biblhete com manchas de sangue e sopa de cenoura. Era de Aurora, abri com rapidez, nele estava escrito :

Te vejo em breve!

 

 

Fim

 

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